Saturday, September 23, 2006

O vendedor de sonhos (e sonhos não envelhecem)


A voz de Milton Nascimento é uma das coisas que me fazem lembrar da infância que passei em Minas. É difícil definir o tipo de música que ele faz, mas quem sabe o que é Minas Gerais entende como ele consegue fazer esse tipo de música.

Nesse vídeo Paul Simon fala (e canta) um pouco sobre Milton.



Um pouco antes de descobrir a beleza da música regional mineira do Vale do Jequitinhonha eu aprendi meus primeiros acordes no violão tocando as músicas do Clube da Esquina, um dos movimentos mais ricos da música popular brasileira cuja história pode ser encontrada nesse livro:


Essa safra de músicos mineiros, que juntou Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e muitos outros grandes compositores, conseguiu gerar verdadeiros clássicos inspirados pelo Jazz, Bossa Nova e Beatles.

Pelas palavras do músico Ivan Vilela, professor da USP e diretor da Orquestra Filarmônica de Violas, podemos ver porque Milton Nascimento é um músico especial e como o Clube da Esquina foi importante:

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Milton inaugura uma nova forma de utilização do violão: como um instrumento ao mesmo tempo harmônico e percussivo. No samba e na bossa nova temos um violão batido dentro de um esquema rítmico. Na Tropicália e Jovem Guarda, a utilização do instrumento é feita de forma rasgueada (ou rasgada ou rasqueada é tocar violão passando os dedos ou a palheta pelas cordas correndo, de cima para baixo ou vice-versa, fazendo as cordas soarem; é uma forma não dedilhada de tocar violão), porém ainda respeitando um sistema rítmico predominante. Em Milton, poderíamos dizer que o violão passa a ser um instrumento arrítmico e de cordas percussivas.

Toda a base da música brasileira foi construída dentro de padrões rítmicos binários, ternários e quaternários. Milton desenvolve músicas em compassos quinários (em cinco tempos), além de trabalhar com compassos híbridos (pulsações diferentes numa mesma música). E também a execução de um samba, originalmente binário, em ritmo ternário.

Constróem a ponte com a música de nossos irmãos americanos de língua espanhola. Acabam por resgatar uma África que não veio pela via do samba e nem do candomblé. Trazem uma África mineira, irmã dos congados, moçambiques e caiapós e tambus.

A percussão passa a ter um papel de solista concorrente ao melopoema (o resultado da melodia e letra, a canção). É um evento que acontece à parte do resto sem, no entanto, deixar de compor o todo. São os primeiros a colocar, em algumas canções, a percussão com um volume maior que a própria voz.

A voz, no Clube da Esquina, deixa de ser apenas o elemento que canta os melopoemas e passa a ser um instrumento que canta sem letra, que produz sons pouco usuais. O falsete, por exemplo, longe de ser um último recurso, torna-se alternativa tímbrica."

Para nossa sorte esse pessoal conseguiu se encontrar nos bares de Belo Horizonte e enriquecer ainda mais a música brasileira. No próximo vídeo Lô Borges conta como foi seu primeiro encontro com Milton Nascimento.



E aqui está parte da turma reunida. Milton canta com Beto Guedes, Tavinho Moura, Lô Borges e Fernando Brandt.

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