Friday, December 22, 2006

OPTICKS - Um Tratado sobre a Luz


Encontrei esse livro em formato pdf. O autor é Isaac Newton e a leitura desse livro é bastante interessante por vários motivos.

É interessante perceber como a língua inglesa apresentava maior semelhança à língua germânica há três séculos. Todos os substantivos eram escritos com a letra inicial maiúscula, como o alemão atual; além disso, a letra eszett (ß) ainda era usada em algumas palavras como “leß” (hoje se escreve “less”). Na verdade a letra eszett é o resultado da junção da letra ſ (denominada s longo, que pode ser encontrada em alguns documentos portugueses antigos) com a letra s. Freqüentemente essas duas letras são usadas nesse livro (e não simplesmente ß), o que torna a leitura menos fluente no início. Também é interessante notar que no rodapé de cada página eles imprimiam a primeira palavra da página seguinte, como se fosse uma espécie de partitura musical.

O estilo de linguagem desses tratados é extremamente semelhante ao usado nos artigos científicos atuais. Alguns símbolos, como o desenho de um olho indicando a posição do observador, também não foram modificados com o passar dos séculos. Uma diferença perceptível é o uso da primeira pessoa do singular ao descrever os experimentos; atualmente usa-se “nós”, e não “eu”, como sujeito por uma questão de elegância (essa é uma das poucas ocasiões em que muitos cientistas demonstram humildade).

Esse livro é revelador em muitos aspectos. Mostra como era difícil o entendimento da ciência naquela época sem as facilidades gráficas, matemáticas e computacionais que temos hoje. Newton usava apenas seu texto e pouquíssimas figuras para descrever seus experimentos e o leitor necessitava (pelo menos no meu ponto de vista) de uma capacidade de abstração e concentração muito grande para assimilar o que foi feito.

Eu passei a admirar ainda mais Isaac Newton, tanto pela sua capacidade de tirar conclusões brilhantes quanto pelo seu poder de observação. Até o arco-íris foi usado em seus experimentos. Com pouquíssimos instrumentos de medida Newton conseguiu desenvolver teorias no campo da óptica usando sua observação, o raciocínio lógico e muito trabalho.

Na minha opinião, a síntese do caminho para o desenvolvimento científico pode ser expressa pela sua famosa frase “Se eu vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes” (“If I have seen further it is by standing on ye shoulders of Giants”), que é uma adaptação de John Salisbury em Metalogicon, um livro religioso escrito em 1159, cuja tradução do latim para o inglês pode ser:"We are like dwarfs sitting on the shoulders of giants. We see more, and things that are more distant, than they did, not because our sight is superior or because we are taller than they, but because they raise us up, and by their great stature add to ours".

Quem quiser pode baixar o livro clicando aqui. É pesado, são 30 Mbytes mas vale a pena.

Saturday, November 04, 2006

Futebol de filósofos

Esse é um vídeo genial dos malucos do Monty Python

Thursday, October 26, 2006

Morre o maestro Rogério Duprat


Hoje morreu Rogério Duprat. O maestro responsável pelo rompimento da barreira entre as músicas erudita e popular brasileiras.

Duprat foi destaque da Orquestra Sinfônica Brasileira na década de 50. Aproximou-se dos músicos populares e participou do Tropicalismo.


Na capa desse disco histórico Duprat (sentado à esquerda) segura um penico como se fosse uma xícara de chá.

Ele criou arranjos maravilhosos para os melhores cantores populares do Brasil (Gilberto Gil, Chico Buarque, Jorge Ben Jor) e para as bandas pioneiras do Rock Brasileiro: Os Mutantes e O Terço.

As duas fotos abaixo mostra a transformação do Duprat Clássico para o Duprat Popular.

















Duprat mudou-se para um sítio em Itapecirica da Serra, se retirou da música por problemas de surdez causados por horas de gravações em estúdios.

Duprat se decepcionou com a música popular brasileira, para ele tudo se tornou uma repetição:


"Tudo que se faz hoje já se fazia há 30 anos. O rap nada mais é do que uma colagem, típica do espírito pós-moderno, que não cria, não acrescenta. O rock repete fórmulas. Eu disse tudo que tinha a dizer naquele período entre os anos 60 e 70"


Eu fico deprimido quando percebo que ele tem razão. Na minha opinião a música popular brasileira moderna foi composta há 30 anos atrás. Hoje só resta a cópia e a falsificação.

Abaixo estão alguns dos seus arranjos: Uma belíssima música da banda O Terço, da qual Flávio Venturini fez parte na década de 70, e as duas versões de Panis et Circenses dos Mutantes.

Clique na figura abaixo para ouvir

Sunday, October 15, 2006

O problema do bolo


V. Barthe, que já foi citado neste blog no post denominado "Jogando com o Demônio - Parte 2", também criou esse interessante problema que apareceu como uma história em Les Cahiers de l'Echiquier Français (novembro-dezembro de 1936).

A história conta que um enxadrista que apreciava a boa mesa convidou um amigo, que se chamava Onésime Xadrez, para um jantar. Em sua homenagem, ofereceu um bolo cuja decoração representava a letra "O" (inicial do primeiro nome de Onésime Xadrez) e um problema simultaneamente.

Brancas jogam. Mate em 2 lances.

(Clique aqui para ver uma solução possível)

Porém, o cozinheiro ao servir o bolo esbarrou nas peças decorativas derrubando-as. Como o cozinheiro não sabia jogar xadrez ele imediatamente arrumou as peças de qualquer maneira de modo que a nova decoração ficou na seguinte forma.


Quando o anfitrião iniciou os insultos ao pobre cozinheiro Onésime interveio: "Acalmem-se senhores. Nada se perdeu. A nova decoração do bolo representa a letra "X", inicial do meu sobrenome. Além disso, ainda temos um problema cuja solução se dá com um mate em 2 lances".

(Para saber a nova solução possível clique aqui).

Tuesday, October 03, 2006

Paulinho Pedra Azul, Minas preciosa


Eu tive o privilégio de crescer perto de uma das regiões mais pobres do Brasil mas com uma cultura popular riquíssima: O Norte de Minas Gerais.

Quase toda a cultura musical de Nanuque, cidade onde passei minha infância no Vale do Mucuri, é proveniente do Vale do Jequitinhonha. Para mim, algumas músicas dessa região parece guardar alguns traços da música medieval portuguesa.

O Vale do Jequitinhonha gerou vários cantadores e músicas belíssimas. Além disso, seu artesanato é fantástico.


Cantador é como os cantores dessa região gostam de ser chamado. Geralmente, com um inseparável chapéu, eles fazem suas apresentações apenas com voz e violão.

Um desses cantadores é Paulinho Pedra Azul, nascido em Pedra Azul, também terra natal de Saulo Laranjeira, ele é cantor, compositor, poeta e artista plástico; já gravou 19 discos, pintou mais de 200 quadros e escreveu 15 livros.

Diz a lenda que sua música mais famosa, Jardim da Fantasia, foi feita para sua noiva morta de forma trágica. Paulinho Pedra Azul nega isso. Essa música foi gravada no disco de mesmo nome em 1982 e se tornou um clássico da música mineira.


Abaixo estão quatro das mais belas músicas desse disco.

Clique na figura para ouvir
Click on the figure below to listen

Sunday, October 01, 2006

Caçada a um rei fugitivo

Algumas vezes acontecem combinações brilhantes em jogos reais que nem mesmo problemistas de xadrez imaginariam situações tão espetaculares.

Na minha opinião uma das melhores combinações ocorreu em um jogo entre Edward Lasker vs. George Allan Thomas.








vs.










Não confundir o americano Edward Lasker com o alemão Emanuel Lasker, grande campeão mundial de xadrez que manteve o título ininterruptamente por 27 anos, vencendo Steinitz em 1824 e perdendo para Capablanca em 1921.

Edward Lasker escreveu um livro muito popular cujo título é "The Adventure of Chess", que no Brasil é editado com o nome "História do Xadrez".

Sir George Allan Thomas era jogador de xadrez, badminton e tenis. Apesar de ter nascido em Therapia, Turquia, era um nobre barão britânco cujo título hereditário terminou com a sua morte, já que ele nunca se casou nem teve filhos.

Voltando ao jogo, realizado em Londres em 1912, no décimo primeiro lance Lasker fez um sacrifício da Dama espetacular iniciando uma combinação fantástica.

11 - D x h7+.....R x h7

A partir desse lance começa uma perseguição implacável ao rei negro, que inicia sua fuga da oitava fileira encontrando a morte na primeira fileira, já no território das brancas.

18 - Rd2#
Xeque-mate

Observe que Lasker poderia encerrar o jogo de maneira ainda mais espetacular dando xeque-mate com um roque, mas ele optou por um final mais simples

Quem quiser observar como foi o jogo inteiro clique aqui.



Wednesday, September 27, 2006

Flash MP3 Player para Blogs

Depois de descobrir um jeito de reproduzir jogos de xadrez encontrei um reprodutor de mp3. Foi uma tarefa difícil mas creio que vai funcionar.

Por enquanto vou usar o Flash MP3 Player, criado por Jeroen Wijering. É leve e parece que funciona bem.

Como teste vou usar uma música do Folclore Venezuelano chamada "Canto del Agua". Eu não sei quem está cantando, só sei que essa é uma gravação consideravelmente rara da década de 60 ou 70. Se alguém souber o nome do cantor e me der essa informação por e-mail ou através de um comentário abaixo eu agradeço.

Clique na figura abaixo para ouvir a música


Quem quiser saber mais detalhes sobre como eu consegui postar esse mp3 player no Blogger é só perguntar.


Saturday, September 23, 2006

O vendedor de sonhos (e sonhos não envelhecem)


A voz de Milton Nascimento é uma das coisas que me fazem lembrar da infância que passei em Minas. É difícil definir o tipo de música que ele faz, mas quem sabe o que é Minas Gerais entende como ele consegue fazer esse tipo de música.

Nesse vídeo Paul Simon fala (e canta) um pouco sobre Milton.



Um pouco antes de descobrir a beleza da música regional mineira do Vale do Jequitinhonha eu aprendi meus primeiros acordes no violão tocando as músicas do Clube da Esquina, um dos movimentos mais ricos da música popular brasileira cuja história pode ser encontrada nesse livro:


Essa safra de músicos mineiros, que juntou Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e muitos outros grandes compositores, conseguiu gerar verdadeiros clássicos inspirados pelo Jazz, Bossa Nova e Beatles.

Pelas palavras do músico Ivan Vilela, professor da USP e diretor da Orquestra Filarmônica de Violas, podemos ver porque Milton Nascimento é um músico especial e como o Clube da Esquina foi importante:

"
Milton inaugura uma nova forma de utilização do violão: como um instrumento ao mesmo tempo harmônico e percussivo. No samba e na bossa nova temos um violão batido dentro de um esquema rítmico. Na Tropicália e Jovem Guarda, a utilização do instrumento é feita de forma rasgueada (ou rasgada ou rasqueada é tocar violão passando os dedos ou a palheta pelas cordas correndo, de cima para baixo ou vice-versa, fazendo as cordas soarem; é uma forma não dedilhada de tocar violão), porém ainda respeitando um sistema rítmico predominante. Em Milton, poderíamos dizer que o violão passa a ser um instrumento arrítmico e de cordas percussivas.

Toda a base da música brasileira foi construída dentro de padrões rítmicos binários, ternários e quaternários. Milton desenvolve músicas em compassos quinários (em cinco tempos), além de trabalhar com compassos híbridos (pulsações diferentes numa mesma música). E também a execução de um samba, originalmente binário, em ritmo ternário.

Constróem a ponte com a música de nossos irmãos americanos de língua espanhola. Acabam por resgatar uma África que não veio pela via do samba e nem do candomblé. Trazem uma África mineira, irmã dos congados, moçambiques e caiapós e tambus.

A percussão passa a ter um papel de solista concorrente ao melopoema (o resultado da melodia e letra, a canção). É um evento que acontece à parte do resto sem, no entanto, deixar de compor o todo. São os primeiros a colocar, em algumas canções, a percussão com um volume maior que a própria voz.

A voz, no Clube da Esquina, deixa de ser apenas o elemento que canta os melopoemas e passa a ser um instrumento que canta sem letra, que produz sons pouco usuais. O falsete, por exemplo, longe de ser um último recurso, torna-se alternativa tímbrica."

Para nossa sorte esse pessoal conseguiu se encontrar nos bares de Belo Horizonte e enriquecer ainda mais a música brasileira. No próximo vídeo Lô Borges conta como foi seu primeiro encontro com Milton Nascimento.



E aqui está parte da turma reunida. Milton canta com Beto Guedes, Tavinho Moura, Lô Borges e Fernando Brandt.

Thursday, September 14, 2006

Uma ótima ferramenta para Blogs sobre Xadrez

Depois de uma madrugada inteira de intensa pesquisa encontrei um software fantástico (e totalmente gratuito) para exibir jogos gravados em PGN em Blogs: O LT-PGN-VIEWER.

Quando resolvi escrever sobre Xadrez nesse Blog percebi que haveria limitações para jogos extensos. Eu precisaria reproduzir uma figura para cada lance, caso contrário seria muito difícil para o leitor comum acompanhar o jogo apenas pela notação algébrica.

Jogos com mais de 10 lances (ou seja, quase todos) tornariam os posts longos e tediosos, então resolvi procurar uma maneira de reproduzir tais jogos de forma interativa ocupando o mínimo espaço possível.

O LT-PGN-VIEWER é construído usando JAVA e, acredito eu, facilitará bastante minha vida. Minhas sinceras congratulações a Lutz Tautenhahn, o autor dessa ótima ferramenta.

Ainda estou em fase de teste, já sei como embutir o visualizador do jogo no Blog mas as margens são muito estreitas, preciso descobrir como manipular o tamanho, cores e outros recursos do LT-PGN-VIEWER para deixar o Blog mais agradável visualmente.






vs.




Como primeira experiência vou usar “A imortal”, um jogo ocorrido em 1851 entre Adolf Anderssen vs. Lionel Kieseritzky. Clique aqui para ver o jogo.

Esse jogo é um clássico da Era Romântica do Xadrez (pré-Steinitz) e mostra como a tática da época dava extrema importância a um rápido desenvolvimento, desprezando até mesmo a perda de material (como pode ser notado logo a partir do lance 5).

Se algum leitor estiver interessado em saber como eu consegui usar essa ferramenta no Blogger, deixe um comentário que eu faço um post sobre cada passo (infelizmente não é uma tarefa simples, necessita bastante trabalho no início mas eu acho que vale a pena).


Sunday, September 10, 2006

Victor Jara e o 11 de setembro


A primeira vez que ouvi falar em Victor Jara eu devia ter uns 12 anos de idade. Foi através do livro "Diário de um Cucaracha" escrito por Henfil.

Henfil era irmão do Betinho, o sociólogo que despertou a mídia brasileira e a elite branca para a tragédia da fome no Brasil na década de 90. Betinho estava no Chile no dia 11 de setembro de 1973, quando a CIA patrocinou um golpe de estado em mais um país soberano, levando ao suicídio um presidente, eleito democraticamente através de eleições limpas, para dar posse a um ditador sanguinário que assassinou milhares de pessoas.

Henfil conta nesse livro, através das cartas que enviava para o Brasil, algumas das suas provações quando se mudou para os Estados Unidos em busca de tratamento para sua hemofilia.

Alguns trechos de uma das cartas me marcaram intensamente:

"New York, 19 de dezembro de 1973

Zezim,

Acabo de falar com o Betinho pelo telefone. Continua no Panamá esperando licença pra ir pro Canadá. (...) Já o Teotônio Júnior ainda está no Chile, que segue recusando-lhe salvo-conduto. E a gente só cruzando os dedos. Morrendo de medo deles entrarem na embaixada e sumirem com ele. Ontem soubemos que andaram tirando gente à força de dentro das embaixadas, pra executar nos Estádio Nacional. E não podemos fazer nada. Que impotência, meu Deus! (...)


Me vejo vivendo no escritório que financiou o golpe no Chile. Todo mundo sabe que foi a ITT e outras que financiaram tudo. Que comandaram o boicote ao governo de Allende. Todo mundo sabe que foi a CIA quem financiou a longa greve do Chile. (...) Os caminhões pararam meses. E aí começou a faltar comida, tudo. Caos completo. E pergunto: Como podem ter parado os caminhões? Os donos vão viver de quê? Já viu patrão fazer greve? Teriam eles um capital enorme acumulado para poderem parar quatro a cinco meses? Claro que não. (...)


Um repórter brasileiro visitou o acampamento dos camioneiros grevistas. E se surpreendeu com a tranqüilidade com que eles estavam vivendo. Viu os camioneiros almoçando e jantando e bebendo como se fosse piquenique. Comendo churrascos. Como? Se faltava carne em todo o Chile?(...)


Victor Jara era o Chico Buarque do Chile. Preso no dia do golpe, foi levado para o Estádio Nacional. Aí cortaram-lhes os dedos, entregaram-lhe um violão e disseram: "Agora, canta!" E Jara esfregou o violão e cantou.

Ay, canto que mal me sales!
Cuánto tengo que cantar espanto!

Espanto como el que vivo
como que muero espanto.
De verme entre tantos y tantos
momento del infinito
en que el silencio y el grito

son la metas de este canto.

Eu nunca vi nenhuma foto de Victor Jara. Mas eu imagino ele igual o meu irmão. E é esta associação que me fez chorar. Como se fosse meu irmão que tivesse sido morto. E como o mano toca violão, aí é que fica completo. Precisa ver o alívio que fico quando falo com o Betinho pelo telefone. É como se Victor Jara estivesse vivo. Contam as testemunhas que Jara não acabou de cantar. Foi metralhado ao meio. Jara não está mais vivo. Mas meu irmão está. O que é a mesma coisa. (...) E será que, se eu sair aqui na Rua 70 chorando, Nova Iorque vai saber que Victor Jara está morto?"

Essa é a capa do LP gravado em 1969 onde se encontra uma de suas músicas mais belas: Te recuerdo, Amanda. Depois que fiquei sabendo da forma trágica que Victor Jara foi assassinado essa capa passou a ter um significado muito forte para mim. Apesar de mostrar as mãos de um camponês, quando vejo essa imagem eu vejo duas mãos de um músico clamando por um violão.

Victor Jara era filho de camponeses na localidade de Chillán com forte tradição folclórica. Sua mãe se chamava Amanda, tinha sangue Mapuche e um vasto conhecimento da cultura popular chilena. Victor trabalhou no campo desde criança e não tinha uma boa relação com seu pai.

Eles se mudaram para Santiago devido a um acidente doméstico que feriu seriamente sua irmã Maria. Em Santiago, Victor ingressa no Seminário da Ordem dos Redentoristas e se dedica ao canto gregoriano.

Após deixar o Seminário, Victor ingressa na Universidade de Chile estudando atuação e direção na Escola de Teatro. Ele começou sua carreira de cantor depois de ter sido incentivado por Violeta Parra. Em 1961 compõe sua primeira canção: Paloma Quiero Contarte. A partir daí o Chile ganhou um dos seus melhores artistas e um dos principais compositores da música de protesto latino-americana.

Provavelmente Victor Jara foi executado por ter sido nomeado Embaixador Cultural do Governo Allende em 1971 e por ser militante do Partido Comunista do Chile.

Essas são imagens do seu último concerto em Lima, Peru. Ele canta Luchín.



É interessante a forma como Victor Jara fala sobre essa música.



E essa é, na minha opinião, sua obra prima.




Monday, August 28, 2006

Jogando com o Demônio - Parte 1


Esta é uma pintura feita por Albertus Pictor no teto de uma igreja da Suécia construída no século XIII (Täby Kyrka, diocese de Estocolmo). Essa imagem, onde um cavaleiro medieval joga xadrez com a personificação da morte, serviu de inspiração para o diretor Ingmar Bergman no filme "O Sétimo Selo" (Det sjunde inseglet) em 1956. O filme conta a história de um cavaleiro (Max Von Sydow) que volta das Cruzadas depois de 10 anos, encontra seu país arrasado pela peste negra, se depara com a Morte (Bengt Ekerot) e a convida para um jogo de xadrez que decidirá se ele morrerá ou não.


A idéia de jogar xadrez pela vida ou pela alma contra o demônio já foi tema de vários contos, fotos e pinturas.

O fantástico escritor e professor de matemática brasileiro Júlio César de Mello e Souza, mais conhecido como Malba Tahan, mostra em seu livro "Lendas do Deserto" como Ibrahim conseguiu dar Xeque-mate no diabo, ou, como dizem os árabes: Cheitã, o infernal. A aposta era uma boa soma em dinheiro em caso de vitória ou o abandono para sempre do xadrez em caso de derrota (para Ibrahim provavelmente isso seria pior que a morte).

O final desse jogo é muito parecido com um problema em forma de conto escrito por Charles Godfrey Gumpel, How the Devil Was Caught - A Chess Legend, publicado em 1876. Nesse conto, o Demônio jogava com as Negras e o jogo chegou à seguinte situação:


O Demônio foi advertido de que levaria Xeque-mate em 7 lances. Na seqüência os lances jogados foram:

1- T x g7+.....Rf6













2- D x c6+.....T x c6













3- T x c6+.....Dd6













4- T x d6+.....c x d6













5- Cc7.....d5













6- C x d5+.....Re6













7- Te7#
Xeque-mate

Diz o conto que, ao ver o sinal da cruz, o Demônio soltou um grito desesperado e sumiu.

Gumpel construiu um autômato jogador de xadrez chamado "Mephisto". Esse autômato jogou durante vários anos por boa parte da Europa no século XIX e era operado pelo mestre de xadrez Isidor Gunsberg . Gunsberg, mesmo operando Mephisto, se recusava a ganhar de uma mulher. Em todas as partidas com mulheres ele estabelecia uma posição de vencedor e depois, propositadamente, forçava uma situação para ser derrotado, por mais inexperiente que fosse a sua adversária. E algumas mulheres realmente acreditavam que vencera o Grande Mephisto.

Saturday, August 19, 2006

Jogando com o Demônio - Parte 2


V. Barthe fez referência a um grande enxadrista da Renascença chamado Paulo Boi, também conhecido como il Boive ou il Siracusano (por ter nascido em Siracusa, na Sicília, em 1528).

Em um problema em forma de conto, publicado em Les Cahiers de l'Echiquier Français em 1936, Paulo Boi conhece uma bela mulher em frente à Igreja de Santa Maria, na Calábria, e depois de conversarem por algum tempo começam uma partida de xadrez. Paulo Boi jogava com as brancas e a mulher com as negras.

Em dado momento, o jogo chega à seguinte situação:


Paulo Boi anunciou xeque-mate em 2 lances.

No conto, esses lances aparecem como um problema, mas é fácil perceber que um final possível seria:

1- C x e6.....T x f6













2- T x e5 #
Xeque-Mate

Observe que a captura da Dama branca pela torre é praticamente forçada, todos os outros lances possíveis seriam seguidos de mate, de tal forma que apenas um (1- ...g4) não teria participação da Dama no golpe final.

Voltemos então ao conto.

Eis que, instantaneamente, a Dama branca se transformou em Dama negra:


A bela mulher riu e disse: "Ah Paulo, você não me vencerá. Agora eu tenho uma dama e você não tem nenhuma".

Paulo Boi imediatamente disse que ainda venceria e anunciou novamente xeque-mate em 2 lances.

Novamente esses lances aparecem no conto como um problema, sendo sua solução:

1- Cb5.....C x c4












2- Cc3 #
Xeque-Mate

Diz o conto que a bela mulher desapareceu sem dar uma única palavra. Então Paulo Boi percebeu que havia jogado com o Demônio.


A escolha de Paulo Boi como personagem desse conto não foi aleatória. A vida de Paulo Boi foi marcada por lances fantásticos. Edward Lasker relata, em seu livro "História do Xadrez" (The Adventure of Chess), que Paulo Boi e Giovanni Leonardo foram os principais jogadores italianos da segunda metade do século XVI. Em partidas disputadas perante Filipe II, ambos derrotaram Ruy López, o enxadrista espanhol que divulgou a abertura mais popular do xadrez que hoje leva seu nome (também conhecida como Abertura Espanhola), transferindo assim a supremacia do xadrez da Espanha para a Itália.

Segundo Edward Lasker:

"Da Espanha ele foi pra Portugal e jogou com o Rei Sebastião, antes de seguir para a Sicília, onde o Rei Filipe lhe dera um lucrativo cargo. Na viagem, foi capturado por piratas argelinos, mas sua perícia no xadrez conquistou-lhe a liberdade. Da Sicília foi a Milão, Veneza e , daí, à Hungria. Continuou a viajar e exibir sua perícia durante mais de dez anos, ganhando mais de trinta mil coroas - importâcia colossal numa época em que um homem podia viver confortavelmente com uma renda anual de quinhentas a mil coroas.

Em 1558, Boi foi convidado a disputar um match com Alessandro Salvio, jovem mestre em ascensão, em Nápoles. Boi fez uma combinação de cinco lances, capturando a Dama de Salvio; este porém, vira mais longe; reconquistou a Dama no sétimo lance e venceu a partida. Boi disse: "A mocidade pode conseguir mais do que a velhice. Estais no apogeu de vossa vida e eu tenho setenta anos". Três dias depois, Boi foi encontrado morto envenenado em seus aposentos."

Porém, nem sempre o demônio joga com as negras. É o que mostra essa fotografia feita por Garry Vogelsang, um fotógrafo de Melbourne, Austrália.

"Devil Plays Chess"