Wednesday, September 27, 2006

Flash MP3 Player para Blogs

Depois de descobrir um jeito de reproduzir jogos de xadrez encontrei um reprodutor de mp3. Foi uma tarefa difícil mas creio que vai funcionar.

Por enquanto vou usar o Flash MP3 Player, criado por Jeroen Wijering. É leve e parece que funciona bem.

Como teste vou usar uma música do Folclore Venezuelano chamada "Canto del Agua". Eu não sei quem está cantando, só sei que essa é uma gravação consideravelmente rara da década de 60 ou 70. Se alguém souber o nome do cantor e me der essa informação por e-mail ou através de um comentário abaixo eu agradeço.

Clique na figura abaixo para ouvir a música


Quem quiser saber mais detalhes sobre como eu consegui postar esse mp3 player no Blogger é só perguntar.


Saturday, September 23, 2006

O vendedor de sonhos (e sonhos não envelhecem)


A voz de Milton Nascimento é uma das coisas que me fazem lembrar da infância que passei em Minas. É difícil definir o tipo de música que ele faz, mas quem sabe o que é Minas Gerais entende como ele consegue fazer esse tipo de música.

Nesse vídeo Paul Simon fala (e canta) um pouco sobre Milton.



Um pouco antes de descobrir a beleza da música regional mineira do Vale do Jequitinhonha eu aprendi meus primeiros acordes no violão tocando as músicas do Clube da Esquina, um dos movimentos mais ricos da música popular brasileira cuja história pode ser encontrada nesse livro:


Essa safra de músicos mineiros, que juntou Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e muitos outros grandes compositores, conseguiu gerar verdadeiros clássicos inspirados pelo Jazz, Bossa Nova e Beatles.

Pelas palavras do músico Ivan Vilela, professor da USP e diretor da Orquestra Filarmônica de Violas, podemos ver porque Milton Nascimento é um músico especial e como o Clube da Esquina foi importante:

"
Milton inaugura uma nova forma de utilização do violão: como um instrumento ao mesmo tempo harmônico e percussivo. No samba e na bossa nova temos um violão batido dentro de um esquema rítmico. Na Tropicália e Jovem Guarda, a utilização do instrumento é feita de forma rasgueada (ou rasgada ou rasqueada é tocar violão passando os dedos ou a palheta pelas cordas correndo, de cima para baixo ou vice-versa, fazendo as cordas soarem; é uma forma não dedilhada de tocar violão), porém ainda respeitando um sistema rítmico predominante. Em Milton, poderíamos dizer que o violão passa a ser um instrumento arrítmico e de cordas percussivas.

Toda a base da música brasileira foi construída dentro de padrões rítmicos binários, ternários e quaternários. Milton desenvolve músicas em compassos quinários (em cinco tempos), além de trabalhar com compassos híbridos (pulsações diferentes numa mesma música). E também a execução de um samba, originalmente binário, em ritmo ternário.

Constróem a ponte com a música de nossos irmãos americanos de língua espanhola. Acabam por resgatar uma África que não veio pela via do samba e nem do candomblé. Trazem uma África mineira, irmã dos congados, moçambiques e caiapós e tambus.

A percussão passa a ter um papel de solista concorrente ao melopoema (o resultado da melodia e letra, a canção). É um evento que acontece à parte do resto sem, no entanto, deixar de compor o todo. São os primeiros a colocar, em algumas canções, a percussão com um volume maior que a própria voz.

A voz, no Clube da Esquina, deixa de ser apenas o elemento que canta os melopoemas e passa a ser um instrumento que canta sem letra, que produz sons pouco usuais. O falsete, por exemplo, longe de ser um último recurso, torna-se alternativa tímbrica."

Para nossa sorte esse pessoal conseguiu se encontrar nos bares de Belo Horizonte e enriquecer ainda mais a música brasileira. No próximo vídeo Lô Borges conta como foi seu primeiro encontro com Milton Nascimento.



E aqui está parte da turma reunida. Milton canta com Beto Guedes, Tavinho Moura, Lô Borges e Fernando Brandt.

Thursday, September 14, 2006

Uma ótima ferramenta para Blogs sobre Xadrez

Depois de uma madrugada inteira de intensa pesquisa encontrei um software fantástico (e totalmente gratuito) para exibir jogos gravados em PGN em Blogs: O LT-PGN-VIEWER.

Quando resolvi escrever sobre Xadrez nesse Blog percebi que haveria limitações para jogos extensos. Eu precisaria reproduzir uma figura para cada lance, caso contrário seria muito difícil para o leitor comum acompanhar o jogo apenas pela notação algébrica.

Jogos com mais de 10 lances (ou seja, quase todos) tornariam os posts longos e tediosos, então resolvi procurar uma maneira de reproduzir tais jogos de forma interativa ocupando o mínimo espaço possível.

O LT-PGN-VIEWER é construído usando JAVA e, acredito eu, facilitará bastante minha vida. Minhas sinceras congratulações a Lutz Tautenhahn, o autor dessa ótima ferramenta.

Ainda estou em fase de teste, já sei como embutir o visualizador do jogo no Blog mas as margens são muito estreitas, preciso descobrir como manipular o tamanho, cores e outros recursos do LT-PGN-VIEWER para deixar o Blog mais agradável visualmente.






vs.




Como primeira experiência vou usar “A imortal”, um jogo ocorrido em 1851 entre Adolf Anderssen vs. Lionel Kieseritzky. Clique aqui para ver o jogo.

Esse jogo é um clássico da Era Romântica do Xadrez (pré-Steinitz) e mostra como a tática da época dava extrema importância a um rápido desenvolvimento, desprezando até mesmo a perda de material (como pode ser notado logo a partir do lance 5).

Se algum leitor estiver interessado em saber como eu consegui usar essa ferramenta no Blogger, deixe um comentário que eu faço um post sobre cada passo (infelizmente não é uma tarefa simples, necessita bastante trabalho no início mas eu acho que vale a pena).


Sunday, September 10, 2006

Victor Jara e o 11 de setembro


A primeira vez que ouvi falar em Victor Jara eu devia ter uns 12 anos de idade. Foi através do livro "Diário de um Cucaracha" escrito por Henfil.

Henfil era irmão do Betinho, o sociólogo que despertou a mídia brasileira e a elite branca para a tragédia da fome no Brasil na década de 90. Betinho estava no Chile no dia 11 de setembro de 1973, quando a CIA patrocinou um golpe de estado em mais um país soberano, levando ao suicídio um presidente, eleito democraticamente através de eleições limpas, para dar posse a um ditador sanguinário que assassinou milhares de pessoas.

Henfil conta nesse livro, através das cartas que enviava para o Brasil, algumas das suas provações quando se mudou para os Estados Unidos em busca de tratamento para sua hemofilia.

Alguns trechos de uma das cartas me marcaram intensamente:

"New York, 19 de dezembro de 1973

Zezim,

Acabo de falar com o Betinho pelo telefone. Continua no Panamá esperando licença pra ir pro Canadá. (...) Já o Teotônio Júnior ainda está no Chile, que segue recusando-lhe salvo-conduto. E a gente só cruzando os dedos. Morrendo de medo deles entrarem na embaixada e sumirem com ele. Ontem soubemos que andaram tirando gente à força de dentro das embaixadas, pra executar nos Estádio Nacional. E não podemos fazer nada. Que impotência, meu Deus! (...)


Me vejo vivendo no escritório que financiou o golpe no Chile. Todo mundo sabe que foi a ITT e outras que financiaram tudo. Que comandaram o boicote ao governo de Allende. Todo mundo sabe que foi a CIA quem financiou a longa greve do Chile. (...) Os caminhões pararam meses. E aí começou a faltar comida, tudo. Caos completo. E pergunto: Como podem ter parado os caminhões? Os donos vão viver de quê? Já viu patrão fazer greve? Teriam eles um capital enorme acumulado para poderem parar quatro a cinco meses? Claro que não. (...)


Um repórter brasileiro visitou o acampamento dos camioneiros grevistas. E se surpreendeu com a tranqüilidade com que eles estavam vivendo. Viu os camioneiros almoçando e jantando e bebendo como se fosse piquenique. Comendo churrascos. Como? Se faltava carne em todo o Chile?(...)


Victor Jara era o Chico Buarque do Chile. Preso no dia do golpe, foi levado para o Estádio Nacional. Aí cortaram-lhes os dedos, entregaram-lhe um violão e disseram: "Agora, canta!" E Jara esfregou o violão e cantou.

Ay, canto que mal me sales!
Cuánto tengo que cantar espanto!

Espanto como el que vivo
como que muero espanto.
De verme entre tantos y tantos
momento del infinito
en que el silencio y el grito

son la metas de este canto.

Eu nunca vi nenhuma foto de Victor Jara. Mas eu imagino ele igual o meu irmão. E é esta associação que me fez chorar. Como se fosse meu irmão que tivesse sido morto. E como o mano toca violão, aí é que fica completo. Precisa ver o alívio que fico quando falo com o Betinho pelo telefone. É como se Victor Jara estivesse vivo. Contam as testemunhas que Jara não acabou de cantar. Foi metralhado ao meio. Jara não está mais vivo. Mas meu irmão está. O que é a mesma coisa. (...) E será que, se eu sair aqui na Rua 70 chorando, Nova Iorque vai saber que Victor Jara está morto?"

Essa é a capa do LP gravado em 1969 onde se encontra uma de suas músicas mais belas: Te recuerdo, Amanda. Depois que fiquei sabendo da forma trágica que Victor Jara foi assassinado essa capa passou a ter um significado muito forte para mim. Apesar de mostrar as mãos de um camponês, quando vejo essa imagem eu vejo duas mãos de um músico clamando por um violão.

Victor Jara era filho de camponeses na localidade de Chillán com forte tradição folclórica. Sua mãe se chamava Amanda, tinha sangue Mapuche e um vasto conhecimento da cultura popular chilena. Victor trabalhou no campo desde criança e não tinha uma boa relação com seu pai.

Eles se mudaram para Santiago devido a um acidente doméstico que feriu seriamente sua irmã Maria. Em Santiago, Victor ingressa no Seminário da Ordem dos Redentoristas e se dedica ao canto gregoriano.

Após deixar o Seminário, Victor ingressa na Universidade de Chile estudando atuação e direção na Escola de Teatro. Ele começou sua carreira de cantor depois de ter sido incentivado por Violeta Parra. Em 1961 compõe sua primeira canção: Paloma Quiero Contarte. A partir daí o Chile ganhou um dos seus melhores artistas e um dos principais compositores da música de protesto latino-americana.

Provavelmente Victor Jara foi executado por ter sido nomeado Embaixador Cultural do Governo Allende em 1971 e por ser militante do Partido Comunista do Chile.

Essas são imagens do seu último concerto em Lima, Peru. Ele canta Luchín.



É interessante a forma como Victor Jara fala sobre essa música.



E essa é, na minha opinião, sua obra prima.